“O que você quer ser quando crescer?”. Faça essa pergunta em uma roda de crianças e ouvirá de quase todas, isso se não for de todas, a seguinte resposta: “jogador de futebol”.
E elas estão certas em sonhar. Imagina você se tornando jogador. Não necessita ficar estudando muito (com exceção de saber assinar seu nome e futuramente a língua do país onde você irá jogar), pode virar ídolo de milhões de pessoas, fazer uma atividade agradável e que muitos de nós fazemos por pura diversão, é tido como celebridade, além, é claro, de um salário astronômico.
O futebol é uma grande paixão nacional, quase todos os brasileiros são apaixonados por futebol. E o futebol é o esporte mais praticado no mundo inteiro.
HÁ UM MERCADO ENORME que envolve esse esporte. Da venda de ingressos dos jogos aos títulos de sócio torcedor de cada clube, passando por venda de produtos como camisas, bandeiras etc. Quando um grande jogador é contratado, o departamento de marketing do clube logo trabalha para associar a imagem daquele jogador em tudo. Porque as pessoas compram, usam, aderem à moda, isso tudo motivado pela paixão. Paramos tudo para assistir um jogo na televisão, e às vezes, como queremos mais, assinamos o pay-per-view (pague para ver). Ou seja, nós precisamos
RESPIRAR futebol. E como gastamos dinheiro por esse lazer...
Não estou julgando ninguém, afinal, sou mais um apaixonado por futebol. Considero que seja o melhor esporte que o ser humano já inventou e sempre tento acompanhar todas as partidas do meu time, e se não posso, pelo menos me atualizo DIARIAMENTE nas notícias. É inevitável. Como esse esporte nos envolve. Como nos chama. E como, ao mesmo tempo, nos faz sofrer (quando nosso time passar por uma fase ruim e temos que aguentar provocações de torcedores rivais, por exemplo).
Tudo isso é que faz o mercado que envolve o futebol ser tão grande, tanto dinheiro circular por essa área e consequentemente faz os salários dos jogadores serem tão altos. Mas a questão é: o futebol sempre foi essa paixão, sempre esteve presente no dia a dia do brasileiro. E antes os salários estavam longe de ser tão astronômicos. Então o que mudou? O mundo ficou mais globalizado, as empresas começaram a investir nos clubes e nos jogadores, a imagem dos jogadores ficou mais ligada aos produtos, a televisão teve que começar a pagar pelos direitos de transmissão etc.
Obviamente vida de jogador de futebol não é perfeita. Você primeiro deve ter habilidade, pois não é qualquer um que consegue (os “pernas-de-pau” que vemos por aí, muitas vezes, estão por conta de empresários). Deve conviver com uma vida de treinos, sujeito a contusões, pressão quando se está jogando por um grande clube, viver viajando, e estando nas concentrações, passar algum tempo longe da família. Além, é claro, de que é uma carreira curta. Os jogadores começam profissionalmente em média, por volta dos 20 anos e se aposentam, ainda em média, por volta de 35. Ou seja, são mais ou menos 15 anos para se construir uma carreira.
Mas mesmo assim, o salário de um jogador é algo absurdo. Para se falar de números, o salário de Fred no Fluminense em dezembro do ano passado era de R$ 400.000. Obina que já chegou a ficar seis meses sem marcar um gol sequer, já chegou a receber R$ 80.000 pelo Flamengo. Leandro Amaral, na época que defendia o Vasco recebia R$ 100.000. E não se limita apenas a jogadores. No mesmo Vasco, Dorival Jr recebia cerca de R$ 280.000 e há meses atrás o Inter chegou a fazer uma proposta a Felipão que girava em torno de incríveis R$ 700.000. E isso aqui no Brasil. Na Europa é muito mais. O jogador mais bem pago do mundo em 2010 foi o português Cristiano Ronaldo, do Real Madrid, que recebe € 1.083.000. Cristiano também foi o jogador mais caro que um clube já gastou em uma contratação. Foram pagos € 94.000.000 ao Manchester United pelo passe do jogador.
E isso não se limita ao futebol. Em 2008, Kobe Bryant (astro dos Los Angeles Lakers) chegou a receber US$ 21.262.500,00. Segundo a Forbes, o golfista Tigger Woods já acumulou uma fortuna de mais de US$ 1.000.000.000. Entre junho de 2006 e junho de 2007, Roger Federer recebeu US$ 29.000.000. Entre muitos outros casos.
Para você ver o poder que o esporte tem.
Um soldado da Polícia Militar no Rio de Janeiro, após 3 anos de serviço recebe R$ 900,39.
Já para professores, no Estado do Rio de Janeiro, para uma carga horária de 40 horas o salário base é de R$ 896,48
A formação como cirurgião dentista dura 5 anos e um salário médio inicial varia entre R$ 2.200,00 a R$ 2.900,00.
Não desmerecendo os esportistas, mas essas profissões também não são nada fáceis, algumas até se corre risco de vida, e o salário que recebem é muito abaixo do que merecem. Muitos vão pensar: “mas aí é com o governo, o atleta nada tem a ver com isso”. Sim, é verdade, por isso, é também uma crítica aos governos que remuneram mal os empregados públicos. Mas o que me refiro é, mesmo carreira de esportista não sendo fácil, o salário que recebem, na minha opinião, é algo absurdo. Claro que eles precisam receber bem para desfrutarem após sua aposentadoria, mas um golfista chegar a ser bilionário, por apenas jogar golfe, enquanto inúmeros cirurgiões se matam de estudar, trabalhar, e sem poder errar, porque qualquer erro é crucial... A maioria sequer conseguirá chegar perto dessa fortuna toda. É injusto.
O esporte salva vidas, tira muitas crianças do crime, realiza sonhos e é
ALGO FUNDAMENTAL NA NOSSA SOCIEDADE, mas não deve ser tratado como algo supremo, acima dos nossos problemas, e sim como uma forma de lazer. Foram esses salários astronômicos que fizeram com que muitos jogadores pensem antes com a carteira do que com o coração. O amor à camisa ainda não acabou, mas a cada dia que passa se torna mais raro, e é iminente que diminua cada vez mais. Os jogadores das divisões de base já sonham em estrear em seus clubes e irem direto para a Europa. Tudo por dinheiro.
Devemos rever nossos valores. O dinheiro é algo fundamental em nossas vidas, porque ninguém vive sem dinheiro, mas devemos ver que ele não é tudo. Não devemos tomar certas escolhas pensando apenas em como aquilo fará bem a você monetariamente, mas sim pessoalmente, em como isso irá te acrescentar e te transformar em um ser humano melhor e mais feliz. Viva as coisas simples da vida.